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Edifício Barjona de Freitas, Barcelos « voltar às obras

 


Início do projecto 1939
Data de início de obra 1941


O edifício Barjona de Freitas é hoje a marca mais visível da forte ligação da família Marques da Silva a Barcelos. Essa ligação era, no entanto, já bastante antiga à data da sua construção: o avô de Júlia Lopes Martins Marques da Silva (esposa de José Marques da Silva desde 1901) era barcelense e, embora Júlia tenha nascido em Vila da Feira (em 1874), a família tinha em Barcelos várias propriedades.

Esta obra pode ser também lida com o valor simbólico de uma passagem de testemunho: surge nos anos finais da longa carreira de José Marques da Silva (que viria a falecer em 1947) mas, simultaneamente, marca o início da atividade profissional da sua filha, Maria José Marques da Silva. A jovem arquiteta (primeira com este título formada pela Escola de Belas Artes do Porto) fazia nesta altura o seu tirocínio (estágio profissionalizante necessário à conclusão do curso de Arquitetura nas Belas Artes do Porto) no ateliê do pai, tendo tido um papel importante no processo de conceção do projeto (cujos desenhos mostram as assinaturas de ambos).

A ligação profissional desta família com Barcelos inicia-se em 1911, quando a autarquia convida Marques da Silva para “estudar e emitir um parecer sobre as obras do hospital da Misericórdia” e, no ano seguinte, sobre as obras de “«aformoseamento» do Campo da Feira e das suas imediações, integrado no plano de melhoramentos” (Marques da Silva em Barcelos, p. 10).

É precisamente nestas imediações que se situa o edifício Barjona de Freitas, numa fração urbana pertencente à família Lopes Martins. A sua localização privilegiada, visível desde o Campo da Feira, no centro de Barcelos (no cunhal das ruas Barjona de Freitas e D. António Barroso), confere a este projeto uma responsabilidade na imagem urbana que Marques da Silva parece assumir como tema de projeto. O edifício resolve o gaveto em curva, na boa tradição das Beaux-Arts de Paris (onde Marques da Silva completa os seus estudos e consegue o seu diploma de arquiteto), salientando a sua localização privilegiada sem ter necessidade do recurso a uma monumentalização por via decorativa.

A linguagem do edifício é, aliás, bastante depurada, sem ser radicalmente moderna. É desenhado com recurso a superfícies lisas, recortadas por janelas retangulares, cujo pendor vertical é reforçado e enquadrado por pequenas nervuras desenhadas no reboco, criando um ritmo pouco evidente que se relaciona com a estrutura e com a modelação dos vãos. O efeito mais interessante é conseguido na relação entre o alinhamento da rua e avanço criado, parcialmente, no 1º e no 2º pisos: o arquiteto tira partido da opção estrutural (lajes e pilares de betão conjugadas com paredes portantes em pedra) para destacar um corpo de dois pisos, avançado sobre o alinhamento do piso térreo graças a um balanço de cerca de um metro (que permite ganhar área útil no interior do edifício). O remate deste plano avançado é cuidadosamente desenhado de ambos os lados do edifício, transformando em varanda os últimos vãos e resolvendo a interseção do plano recuado da fachada com o plano saliente de forma simples mas engenhosa. A presença deste elemento destacado torna a composição vertical do edifício num esquema tripartido, de raiz clássica, também típico dos sistemas de composição Beaux-Arts.

O edifício tem um programa misto, com R/C comercial, escritórios no 1º piso e habitação no 2º e 3º (recuado, com varandas). Em planta, os apartamentos (dois por piso, organizados num esquema de esquerdo-direito) são estruturados por um longo corredor longitudinal, que separa os espaços principais (quartos, salas), virados para as ruas envolventes, dos espaços de serviço (cozinhas e W. C.) voltados para o pequeno saguão (com cerca de 30 m2) criado no interior do lote.

É de salientar, finalmente, que numa época em que começa a tornar-se clara a crescente influência dos ditames do Estado Novo na obra da generalidade dos arquitetos portugueses (mesmo daqueles que integravam a chamada primeira geração moderna), esta é uma obra que não apresenta qualquer cedência a este tipo de pressões que, no caso de outros autores (mais ou menos consagrados), motivou mudanças de linguagem bastante radicais… 

Eduardo Fernandes
  Arquiteto Doutorado (EAUM - LAB2PT)



Bibliografia:
CARDOSO, António - O Arquitecto José Marques da Silva e a arquitectura no Norte do país na primeira metade do século XX. Porto: FAUP publicações, 1997.
PORTAS, Nuno - “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal: uma interpretação”, em ZEVI, Bruno - História da arquitectura moderna. Lisboa: Ed. Arcádia, 1970.
SARMENTO, Inês (Coord.) - Marques da Silva em Barcelos. Barcelos: IAJMS / CMB, 2005.
SILVA, José Marques - Edifício Barjona de Freitas (Projecto e memória descritiva), espólio do arquiteto Marques da Silva, Fundação Marques da Silva.


Localização
Gaveto das ruas António Barroso  e Barjona de Freitas
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