Teatro de S. João, bilhete-postal, s.d.
Início do projecto 1909
Data de início da obra 1910
Data de inauguração 1920
Classificação como Imóvel de Interesse Público 1982 (Dec. nº 28/82, de 26 de Fevereiro)
Reclassificação como Monumento Nacional 2012 (Dec. nº 16/2012, de 10 de Julho)
Imagine-se um Teatro a arder. Foi o que aconteceu na noite de 11 para 12 de Abril de 1908, no Porto. O teatro tinha sido projectado por Vicenzo Mazzoneschi, no lugar onde após o incêndio se construiu o novo Teatro de São João, projectado por Marques da Silva. A cidade debateu com animação o programa de construção da nova obra, no qual a principal preocupação foi, naturalmente e como consequência do desastre criador, a segurança. Ainda em 1909 fez-se um primeiro concurso, com Marques da Silva no júri, que foi anulado para dar lugar a ajustes no programa e na encomenda. Em Fevereiro de 1910 fez-se um segundo concurso em que Marques da Silva, já não presente no júri, concorreu, e ganhou o primeiro prémio. Em Setembro já estava a ser construído o novo teatro.
A obra concluiu-se em 1918 e a comissão de segurança não gostou. Marques da Silva tinha adoptado a construção de um perímetro em pedra, coisa grave, e tinha construído em betão as lajes, vigas, escadas e tectos. Mas o resultado não colheu o assentimento geral, percalços sucessivos na perspectiva da comissão de segurança que só aparecem quando a obra já estava concluída, herança da tradição do teatro à italiana na perspectiva de Marques da Silva. O debate é sugestivo: o arquitecto alimentava-se das soluções técnicas que os seus amigos da École de Beaux-arts construíam nas cidades francesas e os peritos exigiam uma eficácia funcional que consideravam ausente. Finalmente, a obra foi inaugurada em 1920.
O Teatro de São João é uma massa monumental, uma caixa de grande formato pousada na plataforma geológica da Batalha com a inteligência suficiente para criar continuidades com as construções vizinhas. Para além da ambiguidade construtiva, entre as novas tecnologias (como o betão armado ou as instalações sanitárias), a relação entre o objecto destacado no tecido da cidade e uma forma em contínuo com as construções vizinhas, o edifício do Teatro espelha os sistemas de contradições entre a herança académica e as transformações sociais do século que se iniciava. A agilidade de compromisso de Marques da Silva continua no formato da sala, entre as tradições italiana, portuguesa e francesa E é a habilidade na gestão de todas estas ambiguidades e conflitos que caracteriza a acção de Marques da Silva como arquitecto. Essa é a razão da relevância do Teatro de São João no percurso profissional do arquitecto.
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Bibliografia de referência
BARROSO, Eduardo Paz, Teatro Nacional S. João: Um Renascimento, Porto, Porto Editora, 1993.
CARDOSO, António, O arquitecto José Marques da Silva e a arquitectura no Norte do País na primeira metade do séc. XX, Porto, Faup-publicações, 1997, pp. 472-492.
CARNEIRO, Luís Soares, A Estranheza da Estípite. Marques da Silva e o(s) Teatro(s) de S. João, Porto, FIMS, 2010.
CARNEIRO, Luís Soares, «Teatro de S. João» in Guia de Arquitectura Moderna Porto 1901/2001, Porto, Ordem dos Arquitectos SRN-Civilização, 2001.
Teatro Nacional S. João, Lisboa, Boletim IPPAR, 1995 .
Localização
Porto, Praça da Batalha
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