José Marques da Silva
Un Hôtel des Voyageurs, 1895 (Trabalho académico Atelier Laloux); 64x128,5cm; Tinta-da-china e aguarela sobre papel

Chegada a Paris: finais de 1889
Admissão à Escola: 6 de Agosto de 1890
Atribuição de Diploma: 10 de Dezembro de 1896

José Marques da Silva, embora preterido nas provas oficiais para bolseiros do Estado em países estrangeiro, parte para Paris com o passaporte emitido no Porto a 24 de Outubro de 1889, tendo como objectivo entrar para a École Nationale et Spéciale des Beaux-Arts e aí alargar os seus horizontes enquanto aluno e futuro arquitecto.
Nesse mesmo ano, a cidade de Paris celebrava a Exposição Universal cujos símbolos publicitários tinham sido a Torre de Gustave Eiffel e a Galeria das Máquinas de Dutert, projectos anunciadores de um novo rumo na arquitectura e nos conceitos sobre a cidade moderna.
Após efectuar o registo de inscrição e apresentar a carta de recomendação escrita pelo Encarregado de Negócios de Portugal, o Conde de Azevedo, Marques da Silva é admitido na Escola de Belas-Artes de Paris, no mês de Fevereiro de 1890 como aluno aspirant. Este estatuto permitia-lhe assistir aos cursos teóricos realizados internamente, consultar a Biblioteca e desenhar as colecções na Galeria da Escola, para preparação ao Concurso de Admissão.
Em Junho de 1890, Marques da Silva realiza o Concurso de Admissão à École Nationale et Spéciale des Beaux-Arts, sendo admitido como aluno definitivo em 2ª Classe. Sensivelmente dois anos e meio mais tarde transita para a 1ª Classe, o que lhe confere a oportunidade de prolongar os seus estudos de arquitectura até obter o título de Arquitecto Diplomado pelo Governo Francês, em 10 de Dezembro de 1896.
Nesta época, as disciplinas teóricas desenvolviam-se no seio da própria Escola, a quem competia apenas ministrar os cursos de Ciências, História e lançar os temas dos Concursos, enquanto que a educação arquitectónica propriamente dita era adquirida nos ateliers, oficiais ou externos à escola, onde os projectos académicos eram estudados tanto sob orientação do arquitecto responsável pelo atelier, como em colaboração e cumplicidade com os colegas. Marques da Silva vai desenvolver a maior parte dos seus trabalhos académicos, que resultam em desenhos de arquitectura notáveis, num atelier livre externo à escola, sob orientação de Victor Laloux, arquitecto galardoado com o conceituado Grand Prix de Rome, em 1878, e autor de projectos como a Gare de Tours e da Gare d’Orsay. Este atelier era então frequentado por uma comunidade internacional de estudantes de arquitectura, onde se destacam nomes como Charles Lemaresquier, futuro sucessor de Victor Laloux, Paul Norman, que viria a ganhar o Grand Prix de 1891, Charles Butler, o primeiro diplomado americano do atelier, em 1897, ou mesmo o do seu conterrâneo Miguel Ventura Terra.
O núcleo documental de trabalhos executados por Marques da Silva, enquanto aluno da École Nacionale et Spéciale des Beaux-Arts e no atelier do arquitecto francês Victor Laloux, é constituído por 67 desenhos de arquitectura, correspondentes a 31 projectos académicos, 44 enunciados relativos aos exames ou concursos da secção de arquitectura lançados na escola, e 2 memórias descritivas de dois projectos académicos.
Consciente da necessidade de salvaguardar um espólio manifestamente singular, com um interesse transversal a diferentes áreas de investigação e esclarecedor das práticas arquitectónicas finisseculares no seio das Beaux-Arts, a Fundação Instituto Arquitecto Marques da Silva deu início, em 2004, a um projecto de restauro deste núcleo documental. Desde finais de 2009, decorre em paralelo um estudo minucioso, que pretende atribuir uma coerência cronológica, de programas e escalas de projecto aos documentos que o constituem, a fim de traçar uma nova faceta sobre a personalidade do jovem José Marques da Silva enquanto estudante de arquitectura e o contexto cultural parisiense da época em que aí viveu.

Clara Vieira
Arquitecta
Mestre em História da Arte Portuguesa
 

 
Bibliografia de referência:

CARDOSO, António – O Arquitecto José Marques da Silva e a Arquitectura no Norte do País na primeira metade do séc.XX. Porto: FAUP publicações, 2ªedição, 1997 
LECONTE, Marie-Laure – Victor Laloux (1850-1937) – L`Architecte de la Gare d`Orsay. Paris: Ministere de la Culture e da Comunication, 1987
VIEIRA, Clara Serra Veiga - O percurso formativo de José Marques da Silva na École Nationale et Spéciale des Beaux-Arts (1890-1896). Dissertação de Mestrado em História da Arte Portuguesa [policopiado, orientador Agostinho Rui Marques de Araújo]. Porto: FLUP, 2010