
Autoria: arquiteto David Moreira da Silva e engenheiro civil J. Bastian [1937].
Arquitetos David Moreira da Silva e Maria José Marques da Silva Martins
[1949-1950].
Localização: cidade do Porto, ruas da Alegria e de Anselmo Braamcamp, edifício sede, oficinas e instalações sociais.
Início do Projecto: 1937
Data do Início da Obra: 1937
Data de Conclusão da Obra: 1953
Um conjunto de edificações projetadas e construídas durante as décadas de 30/40 (edifício sede, oficinas) e 60/70 (torre residência/albergaria, academia), para um espaço particular da cidade e no qual cada um dos seus elementos constitutivos possuem linguagens estéticas distintas, tendo sido pensados para desempenhar funções diferenciadas. O edifício sede, as oficinas, os diferentes espaços destinados aos operários pedreiros e, finalmente, a torre residencial/albergaria e academia José Moreira da Silva são peças que foram sendo reunidas/integradas numa mesma área da cidade e ainda hoje se impõem na paisagem urbana contemporânea. Conjunto inscrito no horizonte da cidade, num sítio localizado a uma cota elevada, entre as ruas da Alegria e de Anselmo Braamcamp, tornou-se num signo referência permanente da então Sociedade Cooperativa de Produção de Operários Pedreiros Portuenses (SCPOPP), uma presença […] resultado de ações e discursos da cidade (CORTES, 2008).
A Cooperativa dos Pedreiros investiu neste terreno acidentado os rendimentos obtidos em obras por si realizadas. Em 23 de maio de 1927, a Sociedade Cooperativa de Produção de Operários Pedreiros Portuenses adquiria a António Maria de Miranda Vasconcelos e esposa o terreno […] com uma casa de lavoura em ruinas, sito entre os prédios das ruas Anselmo Braancamp, Alegria e Herois de Chaves [….] tendo para esta ultima rua uma frente de três metros e meio em esquadria, com entrada também pela rua da Alegria nº 598, servidão comum a este prédio […] (CRPP, LB, 145).
As primeiras intervenções nesta área dão-se no início na década de 1930, num espaço urbano delimitado pelas ruas da Alegria e de Anselmo Braamcamp, com a alteração de uma fachada e adaptação de um edifício existente e propriedade daquela instituição, a cantina e a depósito de carvão.
Data de maio de 1937 o primeiro projeto assinado por David Moreira da Silva e pelo engenheiro civil J. Bastian e elaborado durante o período correspondente à estada de David Moreira da Silva em Paris enquanto aluno da École Nationale Supérieure des Beaux Arts de Paris e do Instituto de Urbanismo daquela capital francesa [1934-1939].
De 1949 e 1950 datam os aditamentos feitos ao anterior projeto da autoria dos arquitectos David Moreira da Silva e Maria José Marques da Silva Martins. Neles se prevê a construção de vários corpos adaptados à topografia do lugar, com preocupações higienistas, funcionalistas e sociais. Estes corpos localizam-se a diferentes níveis e destinam-se a dormitórios coletivos, enfermaria, gabinete médico, sala de curativos, sala de aula, biblioteca, gabinete da direção, balneário e WC, refeitório, armazém, casa da caldeira, sala de sessões, balneário, sala de repouso, oficinas voltadas para a rua de Anselmo Braamcamp, pavilhão com dispositivos espaciais destinados à Gerência situado na rua da Alegria.
David Moreira da Silva, filho do cooperativista José Moreira da Silva, participou ativamente na elaboração do projeto, tendo participado sozinho, no início, e mais tarde em parceria com a esposa, em todo o processo que culminaria na sua materialização. O casal de arquitectos assumiria o compromisso e colaboraria de forma incondicional e até ao fim da sua carreira com a SCPOPP.
José Moreira da Silva encontra-se ligado anímica e indelevelmente à consecução deste projeto que acarinhou. Pedreiro especializado e um dos dez idealizadores/fundadores da SCPOPP, em março de 1914, instituição destinada a promover a cooperação entre os pedreiros, a ajudar e a defender os interesses da classe num período de fortes tensões sociais resultantes de uma conjuntura caracterizada pelas precárias condições de vida e trabalho destes pedreiros. Homem empreendedor foi responsável pela introdução da indústria dos granitos polidos em Portugal em 1937, decisão tomada durante a sua visita à Exposição Universal de Paris, altura em que realizou um contrato com a Société Marbriére de Paris e numa época em que o filho se encontrava a estudar naquela cidade. Data da sua visita a este evento internacional a intenção da criação e da instalação das primeiras oficinas nos terrenos adquiridos anteriormente pela instituição e para a qual participaria ativamente enquanto sócio gerente até 8 de dezembro de 1969, ano da sua morte. Possuidor de um espírito de iniciativa e de empreendedorismo associado ao da solidariedade social, são-lhe ainda reconhecidas e atribuídas outras qualidades com as de paladino dos ideais cooperativistas, espírito pacífico, respeitador, responsável, afável, conciliador, sensato, lutador […] Espírito de iniciativa, capacidade de previsão e realização e ideais de defesa dos direitos profissionais e sociais dos pedreiros (FIMS/MSMS/4387 e 4388).
Quem do seu lado nascente (Fig. 1) observa a cidade, lê no horizonte um enorme bloco de cantaria rasgado por fenestração, construção que se desenvolve na horizontal e se encontra associada a um outro edifício que se impõe pela sua verticalidade. O primeiro edifício deste conjunto corresponde às primeiras oficinas e armazéns da SCPOPP, o segundo, à Torre Miradouro - ambos se inserem, marcam e dominam de uma forma impositiva a paisagem urbana, possuem uma dimensão temporal, são uma imagem forte e referencial de um conjunto que se encontra associado de uma forma singular a uma instituição, familiar ao olhar.
Maria do Carmo Marques Pires
Doutoranda da FLUP
Investigadora do CEPESE
Fontes
Arquivo Histórico Municipal do Porto - Livros de Licenças de Obras.
Fundação Instituto Arquiteto José Marques da Silva: FIMS/MSMS/4387 e 4388; FIMS/MSMS/1529 FIMS/MSMS/3975 – correspondência trocada entre David Moreira da Silva e o presidente da Câmara Municipal da Maia, dr. José Vieira de Carvalho [1977-1984].
1ª Conservatória do Registo Predial do Porto- Livros da Descrições Prediais e de Inscrições de Transmissão.
Bibliografia
CORTÉS, José Miguel – Políticas do Espaço. Arquitetura, Gênero e Controle Social. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.
ROCHA, Hugo – As Obras de Santa Engrácia do Pôrto Acabarão de Se Fazer?. Tripeiro, Série 5, Ano 1, nº 1 (1945) pp. 19-20.
SOCIEDADE Cooperativa De Produção Dos Operários Pedreiros Portuenses – relatório de Contas da Comissão Executiva e Parecer do Conselho Fiscal – exercício de 1969. Porto: Imprensa Social, 1970.
SOCIEDADE Cooperativa De Produção Dos Operários Pedreiros Portuenses - relatório de Contas da Comissão Executiva e Parecer do Conselho Fiscal – exercício de 1976. Porto: Imprensa Social, 1977.
SOUSA, Francisco de Almeida – A Cooperativa de produção dos Operários Pedreiros Portuenses. Tripeiro. Porto, Série Nova, Ano 9, nº 8 (1990), pp. 234-238).