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José Marques da Silva (1869-1947)
Dizer que José Marques da Silva foi o arquitecto que moldou a fisionomia do Porto no início do século XX significa que, para compreender a sua figura, devemos procurar identificar não apenas a sua obra construída mas também o peso dos seus argumentos e ideias na cultura da cidade.
A sua primeira obra de grande significado urbano foi a Estação de São Bento (1896-1916). Ela assinala de um modo monumental a reconfiguração urbana despoletada pela chegada do caminho-de-ferro ao centro da cidade. Não só se estava a reinventar o papel regional do Porto como um centro de serviços que exigia um novo aparato simbólico, como também a própria orgânica funcional do centro, definitivamente deslocado da cota baixa na Ribeira para a cota alta, na praça da Liberdade. Na sequência natural da Estação, a Avenida dos Aliados foi o projecto urbano que consolidou essas dinâmicas e, como arquitecto municipal, Marques da Silva geriu os interesses do plano e coordenou a implementação dos projectos que a configuraram, para além de ter desenhado alguns dos seus edifícios. Para além dessa função determinante na reinvenção do Porto, Marques da Silva construiu várias outras obras no centro da cidade, como o Teatro Nacional de São João (1910-1920), a conclusão do Palácio do Conde de Vizela (1920-1923), o Edifício das Quatro Estações (1905), os Liceus Alexandre Herculano (1914-1930) e Rodrigues de Freitas (1919-1933) e várias casas de habitação unifamiliares consolidaram no Porto o seu prestígio como arquitecto. Também em Guimarães construiu obras de grande significado urbano, como a Sociedade Martins Sarmento (1903-1908), o Mercado Municipal (1927-1947) e o Santuário da Penha (1930-1947), assim como em Braga o Edifício das Obras Públicas (1905) e em Barcelos um prédio na rua Barjona de Freitas (1940). Entre as suas principais obras conta-se também a Casa e Jardins de Serralves, no Porto, (1925-1943) onde, em sintonia com o seu cliente, conciliou as contribuições de prestigiados arquitectos franceses numa obra com qualidades singulares.
A sua obra funda-se na aprendizagem da arquitectura académica, primeiro no Porto na Academia de Belas Artes (1882-1889) e depois em Paris onde frequentou a École Nationale de Beaux-Arts (1889-1896). A arquitectura das beaux-arts, consolidada ao longo de todo o século XIX, associou aos valores da tradição clássica as componentes da razão, promovendo esquemas de composição funcional (mais adaptados às mecânicas da vida moderna) guarnecidos com um aparato formal capaz de atribuir um carácter forte aos edifícios (garantido a presença decorativa). Visível sobretudo em edifícios monumentais, o expoente máximo é a Ópera de Paris (1860-1875) de Charles Garnier (1825-1898). Marques da Silva formou-se nesse contexto beaux-arts, na companhia de estudantes Norte Americanos, Gregos, Russos, Italianos, Egípcios, Sul Americanos e Escandinavos que frequentavam o atelier de Victor Laloux (1850-1937).
Na viragem do século, quando Marques da Silva regressou ao Porto para iniciar a sua prática profissional, o programa internacionalmente divulgado das beaux-arts enfrentava desafios complexos. A principal desadequação dessa prática resultava dos processos construtivos que exigia, pouco adequados aos novos sistemas de produção industrial que então estavam em expansão. Contudo, os ataques mais ferozes a que estava sujeita vinham do desajuste da sua expressão formal perante os desejos simbólicos de uma sociedade em transformação. Pode dizer-se que teve lugar um verdadeiro combate, entre os defensores da depuração formal eventualmente resultante das novas técnicas construtivas, aqueles que defendiam a manifestação simbólica de convicções políticas e, também, quem defendia o ecletismo “ao gosto do freguês”. Nesse contexto de indefinição e antagonismos, Marques da Silva soube manter uma integridade disciplinar muito estável. Sem nunca trair a sua filiação beaux-arts, foi acertando a sua prática para corresponder às aspirações da sociedade.
Esse sentido de compromisso oportuno foi o motor da sua prática pedagógica. Entre 1913 e 1939 assumiu a direcção da Escola de Belas Artes do Porto, onde foi mestre de várias gerações de arquitectos. O desenho, como instrumento central da prática do projecto, foi o motor do seu ensino, empenhado em transmitir processos metodológicos estáveis capazes de reagir às múltiplas solicitações da prática profissional. Foi uma estratégia que lhe garantiu a estima de várias gerações de arquitectos modernos que, partindo da base académica sedimentada por Marques da Silva, souberam reinventar a prática da arquitectura portuense.
Nas suas múltiplas frentes de actuação Marques da Silva deixou um legado duradouro na cultura arquitectónica portuense, na paisagem da cidade, na cultura de projecto dos arquitectos, nas práticas de ensino, numa certa forma de fazer e pensar a arquitectura que se foi consolidando no Porto ao longo do século XX.

 


Principal bibliografia sobre o arquitecto:
António CARDOSO, J. Marques da Silva arquitecto 1869-1947, Porto,
Secção Regional do Norte da Associação dos Arquitectos Portugueses, 1986.

António CARDOSO, O arquitecto José Marques da Silva e a arquitectura
no Norte do País na primeira metade do séc. XX, Porto, Faup-publicações, 1997.

Mário João MESQUITA, Marques da Silva, o aluno, o professor, o arquitecto,
Porto, IMS-Faup, [2006]

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