José Marques da Silva é professor de Arquitectura da Escola de Belas-Artes do Porto (EBAP) entre 1906 e 1939, sendo também seu director entre 1913 e 1918 e entre 1930 e 1939. No período em que dirigiu a instituição, Marques da Silva associou o seu projecto pedagógico ao projecto de Arquitectura para melhorar as condições físicas e higiénicas da Escola, instalada no convento de Santo António da Cidade desde 1836.
Os três projectos da Marques da Silva para a EBAP acompanham também a implementação das reformas do ensino artístico, sendo a primeira em 1911, de carácter republicano e a segunda em 1931-32, no âmbito da construção do Estado Novo. Ambas as reformas direccionam o ensino para o modelo Beaux-Arts da École de Paris, obrigando à criação de espaços lectivos para as disciplinas artísticas e para as disciplinas científicas e ainda de espaços complementares, como a biblioteca, o museu, as salas de exposição ou os gabinetes dos concursos.
1915 Primeira Proposta
Projecto da Escola de Belas-Artes do Porto, Plantas e Alçados, 1915
Em 1915, Marques da Silva apresenta uma primeira proposta, ocupando o terreno de gaveto entre a Avenida Rodrigues de Freitas e a Rua Visconde de Bóbeda. O projecto procura dar continuidade ao sistema compositivo do convento de Santo António, definindo um novo pátio, que organiza o programa da Escola: no corpo norte instala as salas de aula; no corpo nascente, voltado para a Rua Visconde de Bóbeda, coloca a administração, a biblioteca e a sala de Arquitectura; no corpo sul, alinhado com a Avenida Rodrigues de Freitas, é implantado o museu de Escultura, no primeiro piso, e o museu de Pintura, no segundo piso, tirando partido da iluminação zenital. Marques da Silva propõe assim uma nova fachada para a EBAP, prolongando também a linguagem austera e neoclássica do convento. Porém o sidonismo não só afasta Marques da Silva da direcção como adia a construção das novas instalações.
1933 Segunda Proposta
Projecto da Escola de Belas-Artes do Porto, Plantas, Janeiro de 1933
Em Janeiro de 1933, Marques da Silva desenvolve um novo projecto para o mesmo terreno, aproveitando as fundações do projecto do arquitecto e professor Manuel Marques realizado em 1928. O projecto de Marques da Silva segue assim a estrutura do estudo anterior, propondo uma reinterpretação do programa, onde a Sala do Antigo é colocada no centro da composição, em homenagem aos modelos clássicos. Contudo, o Estado Novo decide transferir as instalações da EBAP para o palacete Braguinha, situado na Avenida Rodrigues de Freitas, em frente ao convento de Santo António.
Projecto da Escola de Belas-Artes do Porto, Alçados, Janeiro de 1933
1934 Terceira Proposta
Projecto da Escola de Belas-Artes do Porto, Planta Geral e Alçado nascente (Sala do Antigo, Arquitectura, Exposições), 2 de Maio de 1935
Em Outubro de 1934, Marques da Silva realiza uma nova proposta para a EBAP considerando agora a remodelação do palacete a sua ampliação através de pavilhões. A solução é justificada na memória descritiva: “o ensino artístico obriga a ser ministrado em aulas com disposição de oficina, com luz especial, e amplidão necessária e, portanto, em construções adequadas e especialmente destinadas a esse fim” . Os pavilhões são dispostos em “L” envolvendo o edifício, onde a Sala do Antigo ocupa novamente o centro da composição, colocando o pavilhão de Exposições à face da rua e os pavilhões de Pintura, Desenho e Escultura no interior do jardim. O pavilhão de Arquitectura é colocado entre a Sala do Antigo e o pavilhão de Exposições, onde deveriam ser expostos os concursos. Esta proposta sublinhava a proposta pedagógica de Marques da Silva baseada na cópia dos modelos clássico e na emulação, porque “O ensino das Belas-Artes tem de ser feito numa luta constante de emulações em que cada aluno revele as suas aptidões próprias” .
Projecto da Escola de Belas-Artes do Porto, Alçado norte (Sala do Antigo, Arquitectura, Desenho), 2 de Maio de 1935
Contudo, em 1939, Marques da Silva celebrava o seu jubileu sem concretizar os seus projectos de Arquitectura para a EBAP, que deveriam dar forma construída ao seu projecto de ensino.
Gonçalo Canto Moniz
Departamento de Arquitectura da FCTUC
Bibliografia de referência:
CARDOSO, António, O arquitecto José Marques da Silva e a arquitectura no Norte do País na primeira metade do século XX, Porto, FAUP-publicações, 1997.
MONIZ, Gonçalo Canto, "Ensino Moderno da Arquitectura: Currículo, Pedagogia, Edifício", Arquitectura 21, 13, 2010, 60-65.