
Edifício Quarteirão Conde de Vizela, cunhal entre a rua Cândido dos Reis e a rua das Carmelitas, Porto, fotografia de época (s.d., s.a.).
1º Projecto (Casimiro Barbosa): 1905
2º Projecto (Boutin): 1909
Aditamento ao 2º Projecto (Inácio Pereira de Sá): 1919
Direcção de obras (Marques da Silva): 1920-1932
Na urbanização das Carmelitas, que, realizada nos primeiros anos do século XX, ocupa a cerca do extinto Convento setecentista de S. José e Santa Teresa das Carmelitas Descalças, Diogo José Cabral (1864-1923), grande capitalista do norte do país e 1º Conde de Vizela, deixará um dos mais impressionantes edifícios da zona central portuense. Destinado a alojar os escritórios da Fábrica do Rio Vizela, algumas lojas comerciais e o Clube Portuense, o Palácio desenha um extenso e monumental quarteirão, erguido sobre um lote que o Conde detinha na totalidade, destacando-se, ainda hoje, como peça ímpar na malha urbana da cidade.
O processo de desenho e construção do edifício, onde participa uma vasta equipa de engenheiros, arquitectos, artesãos e corporações, desenvolver-se-á por mais de 20 anos, entre avanços e retrocessos.
O primeiro projecto, datado de 1905 e aprovado dois anos depois, é assinado pelo engenheiro Casimiro Barbosa. Se a imprensa lhe tece grandes elogios, descrevendo o edifício como ‘notável em grandeza e elegância de proporções em qualquer cidade da Península’, Diogo José Cabral, homem pragmático e fascinado pela imagem parisiense de que a cidade estava imbuída, vê na proposta do engenheiro um vocabulário excessivo e redundante, acabando por encomendar, em 1909, novos desenhos ao arquitecto francês Emile Boutin. Esta nova proposta caracteriza-se, sobretudo, por uma maior contenção volumétrica e de tom, apoiada nos óbvios valores de simetria e na forte ancoragem que a dimensão do quarteirão exige e que a utilização do granito acentua.
Apesar do novo projecto agradar a Diogo José Cabral e a construção seguir como programado, em 1920, Marques da Silva é convidado a tomar a direcção das obras, posição que ocupará durante os três anos seguintes. Experiente na afirmação e valorização de edifícios no contexto portuense, Marques da Silva tomará a liberdade de executar alterações e adições ao projeto de Boutin, nomeadamente o desenho das cúpulas dos torreões de ângulo, revestidas a escamas de ardósia e com aberturas em olho-de-boi, e o aumento do edifício para norte com um conjunto de mais cinco lojas sobre a rua Cândido dos Reis e duas novas entradas. De forma a garantir a integração das suas propostas no plano geral, acabará também por imprimir reformulações compositivas que irão valorizar não só o edifício mas todo o quarteirão. Utiliza paredes transversais, numa lógica modular e aberta às excepções das entradas e remates de gaveto, e, tirando partido da implantação do edifício, atribui um tratamento substancialmente diferente a cada fachada, hierarquizando-as e subordinando-as à disposição simétrica das plantas: se na rua Cândido dos Reis a fachada do edifício apresenta pedra ornamentada, na estreita rua dos Correios (hoje Conde de Vizela) aparece secundarizada e exibe betão com alvenaria de pedra lisa pintada, numa clara atitude de despojamento decorativo sem deixar de encobrir o seu referente clássico.
Com o Palácio Conde de Vizela, Marques da Silva contribuirá para o reforço da sua capacidade de arquitecto-construtor, dirigente de obras de grande escala, rigor e tipologicamente inovadores, assim exigido pelo progresso e cosmopolitismo europeu.
Bibliografia
CARDOSO, António – O Arquitecto José Marques da Silva e a Arquitectura no Norte do País na primeira metade do séc. XX. Porto: FAUP publicações, 2ªedição, 1997.
RAMOS, Rui Jorge (coord.) - Leituras de Marques da Silva. Porto: FIMS, 2011.
Localização
Porto, Rua das Carmelitas | Rua Conde de Vizela | Rua Cândido dos Reis
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