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Santuário de S. Torcato « voltar às obras

 
José Marques da Silva, Santuário de S. Torcato: cortes transversal e longitudinal, estudo para encerramento da nave, 1945.

 

1º Projeto: Luís Inácio de Barros Lima (início da construção:1825)
2º Projeto: Ludwig Bohnsted, 1867
Direção de obra: Cesário Augusto Pinto, 1867-1896; José Marques da Silva, 1896-1947; Maria José e David Moreira da Silva, 1947-94
Conclusão de obra: 2006

Benção e Sagração do Santuário: 2015
Elevação a Basílica Menor: 2019 (cerimónia oficial: 2020)

 

“Feita a construção em granito fino da região fica-se perplexo no que mais há de admirar. Se na persistência de fazer trabalhos de tão grande lavor, se na habilidade e domínio com que o material é vencido para que se consiga dele os efeitos mais delicados. No momento actual, em que materiais artificiais estão em maior voga é acto patriótico auxiliar a continuidade da construção em que ainda há imenso a fazer.”

Marques da Silva, Memória descritiva, 1937

 

A construção do Santuário de São Torcato iniciou-se em 1825, sob projeto de Luís Inácio de Barros Lima. Contudo, a obra que hoje contemplamos é fruto de uma rede internacional tecida na segunda metade do século XIX, que resulta da ação continuada de Cesário Augusto Pinto (*Lisboa, 1825; +Guimarães, 1896), Ludwig Bohnstedt (*São Petersburgo, 1822, +Gotha, 1885) e José Marques da Silva (*Porto, 1869, +Porto, 1947).

Estavam já erguidas a capela-mor e lançadas as fundações da nave quando Cesário Augusto Pinto propôs a realização de um concurso internacional. Este concurso, condicionado pelo estado da obra à data do seu lançamento, viria a ter lugar em 1866, dele saindo vencedor Ludwig Bohnstedt, arquiteto de origem russa, que estudara em Berlim. Ainda que desconhecido em Portugal, Bohnstedt  venceria vários concursos e construiria obras notáveis como a sede do banco da Finlândia, em Helsínquia, e o Teatro de Riga, hoje Ópera Nacional. O projeto para o Santuário de S. Torcato desenvolvido por Bohnstedt está documentado no Architekturmuseum da Technische Universität Berlin, onde se pode consultar uma coleção de sete estampas de enorme qualidade publicadas no final do séc.XIX, uma delas sob o sugestivo nome “S. Torquato Kirche – Cathedrale von Guimaraes”. Cesário Augusto Pinto, apesar de ter manifestado uma postura crítica perante a proposta vencedora, acabou por assumir a responsabilidade pelo acompanhamento da obra a partir de 1867 até à sua morte.


Sucedeu-lhe José Marques da Silva que, com menos de trinta anos e regressado a Portugal após terminar a formação em França, assumiu a direção de obra do Santuário. Era então secretário da Irmandade de São Torcato João Gualdino Pereira, personalidade que viria a ter um papel ativo na posterior entrega de trabalhos a Marques da Silva na cidade Guimarães, nomeadamente a encomenda da sede para a Sociedade Martins Sarmento. Ao nível da fachada do santuário, tudo estaria construído até ao nível da platibanda, faltando as torres e a cobertura. Caber-lhe-ia concretizar o remate superior da cobertura com o nicho central onde será colocada a imagem de São Torcato. A torre por si projetada, com ligeiras alterações à linguagem arquitetónica do projeto original, acabaria por ser atingida durante uma trovoada, no ano 1912, e reconstruída.
Na década de 1920, Marques da Silva deu continuidade à obra. Foram construídas as sacristias e a Casa dos Milagres, segundo o projeto de Ludwig Bohnstedt. Estavam por fazer a abóbada, pavimento, altar, vitrine do santo, vitrais, portas e pintura mural – que nunca chegaria a ser executada. Durante aquelas primeiras décadas do século XX, Marques da Silva apresentou ainda várias propostas para o Parque onde decorre a grande romaria que ele deixou registada nos muitos cartazes que desenhou para Irmandade de S. Torcato. Ainda hoje, reconhecemos no Parque algumas ideias e formas dos percursos curvilíneos, o lago com embarcadouro e casa de fresco pensadas por Marques da Silva.
Entre o final da década de 1930 e 1946 (ano da grande celebração da transladação do corpo do Santo da antiga capela mor para a nave da nova basílica), Marques da Silva é chamado para ‘fechar a obra’, ou seja, rematar, ainda que provisoriamente, a nave da igreja. A solução conduzida por Marques da Silva deu continuidade à construção da abóbada, conforme documentam os vários desenhos existentes na Fundação. Marques da Silva, não só acompanha a obra, como assume uma postura de pedagogo no estaleiro, nomeadamente na partilha de conhecimentos com quem a obra executa. Entre as muitas encomendas de São Torcato documentadas na Fundação Marques da Silva estão ainda os estudos para os vitrais e uma urna de cristal, dado que a antiga tinha sofrido um ataque da formiga branca.


Quando, em 1947, morreu Marques da Silva, a obra do Santuário de São Torcato, profundamente condicionada pelo seu tempo – constrangimentos orçamentais, situação política, guerras, etc. –, permanecia por acabar. O trabalho prolongara-se a tal ponto que foram já Maria José Marques da Silva e David Moreira da Silva, filha e genro do arquiteto portuense, a completar a partir da década de 1950 o desenho dos vitrais, das serralharias e dos motivos do pavimento em mosaico hidráulico. Destaque ainda para a cúpula no transepto, terminada em 2006, tão diferente da idealizada por Bohnstedt.


A construção do Santuário de São Torcato, atravessando todas as escalas do desenho, do mobiliário ao espaço público, acompanhou todo o percurso profissional e de vida de Marques da Silva. Foi um processo longo, cuja reconstituição apenas se torna possível reunindo informação de diversas instituições e cuja história nos cabe a nós saber contar.

 

João Luís Marques
Arquiteto Licenciado e Doutorado pela FAUP
Professor Auxiliar Convidado da unidade curricular História da Arquitectura Portuguesa, do MIarq-FAUP
Membro da plataforma internacional OARC - Observatório de Arquitectura Religiosa Contemporánea

 

Consultar Arquivo Digital

 

Fontes:
Archivo de Architectura Civil, Arquivo do Museu Nacional de Arqueologia.
Coleção Aurélio da Paz dos Reis, Centro Português de Fotografia.
Coleção S. Torquato Kirsche - [Cathedrale von Guimaraens, Architekturmuseum] - Technische Universität Berlin.
Projeto Reimaginar Guimarães, Associação Muralha.
Sistema de Informação Marques da Silva/Moreira da Silva, Fundação Marques da Silva [dossier FIMS/MSMS/1525].

Bibliografia
ANACLETO, Regina (1997) Arquitectura Neomedieval Portuguesa. Coimbra, FCG/JNICC, pp. 471-486.
CARDOSO, António (1997) O Arquitecto José Marques da Silva e a arquitectura no Norte do país na primeira metade do século XX. Porto, FAUP publicações, pp. 439-452.
TAVARES, André (2010) Em granito, a arquitectura de Marques da Silva em Guimarães. FIMS / CMG / FCG.
VASCONCELOS, Artur Ornelas Vasconcelos (2014) Do retrato à paisagem: memórias operativas de Marques da Silva. Porto, FLUP. 

Localização
Rua Comendador Alberto Pimenta Machado, São Torcato, Guimarães

Google Maps

 

  • José Marques da Silva, Estudo de Cartaz para a Romaria de S. Torcato, 1898
  • José Marques da Silva, Estudo do remate superior da fachada, [1897]
  • José Marques da Silva, Estudo de estereotomia, 1897
  • José Marques da Silva, Estudo da torre sineira, [1912]
  • José Marques da Silva, Casa dos Milagres: planta, corte e alçado, 1928
  • José Marques da Silva, Estudo para urna de cristal, [1945]
  • José Marques da Silva, Planta do Parque, 1919
  • José Marques da Silva, Estudo de coreto, 1919
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